sexta-feira, 12 de junho de 2009

Resignação visceral.


O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo quase gigante e sinuoso,aparenta a translação de membros desarticulados.Agrava-o a postura normalmente abatida,num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente.A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra;a cavalo,se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido,cai logo sobre um dos estribos,descansando sobre a espenda da sela...
É um homem permanentemente fatigado.Reflete a preguiça invencível,a atonia muscular perene,em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito,no andar desaprumado,na cadência langorosa das modinhas,na tendência constante à imobilidade e à inquietude.Entretanto, toda essa aparência de cansaço iludi.Nada é mais surpreendedor do que vê-lo desaparecer de improviso.Naquela organização combalida operam-se,em segundos,transmutações completas...o homem transfigura-se.empertiga-se,estadeando novos relevos,novas linhas na estatura e no gesto e a cabeça firma-se-lhe, alta,sobre os ombros possantes,aclarada pelo olhar desassombrado e forte,e corrigem-se-lhe,prestes,numa descarga nervosa e instantânea,todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos,e da figura vulgar do tabaréu canhestro,reponta,inesperadamente,o aspecto dominador de um titã acobreado e potente,num desdobramento de força e agilidade extraordinária.

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