segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Evangelho maltrapilho


O Evangelho maltrapilho.

O amor de Deus é simplesmente inimaginável:''e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda plenitude de Deus” ( Ef 3:17-19 ).

Será que estamos ouvindo de fato o que Paulo está dizendo? É mais, meu chapa, mais. Dê as costas as percepções empobrecidas, restritas e finitas de Deus. O amor de Cristo está além de toda a compreensão, além de qualquer coisa que possamos intelectualizar ou imaginar. Não se trata de uma branda benevolência, mas de um fogo consumidor. Jesus é tão insuportavelmente perdoador, tão infinitamente paciente e tão infindavelmente amoroso que nos provê com os recursos que carecemos para vivermos vida de graciosa retribuição.''Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória” (Ef 3:20, 21a ).

Isso soa para você como um religião fácil?
O amor tem suas próprias exigências. Ele não pesa e não poupa nada, mas espera tudo. Talvez isso explique nossa relutância em arriscar. Sabemos muito bem que o evangelho da graça é um irresistível chamado a amarmos da mesma forma. Não é de admirar que muitos de nós escolham entregar a alma a regulamentos em vez de vivermos em união com amor.
Não há maiores pecadores do que os supostos cristãos que desfiguram a face de Deus, mutilam o evangelho da graça e intimidam os outros através do medo. Eles corrompem a natureza essencial do cristianismo. Na frase contundente de Eugene Peterson:'' Eles estão dizendo mentiras sobre Deus, e malditos sejam”.

A igreja está numa encruzilhada crítica. O evangelho da graça está sendo transformado e comprometido através de silêncio, sedução e franca subversão. A vitalidade da fé está ameaçada. Os slogans mentirosos dos pilantras que empunham a religião como uma espada multiplicam-se com impunidade.

Que os maltrapilhos em todo lugar ajuntem-se como igreja professa para clamar em protesto. Revoguem-se as licenças dos líderes religiosos que falsificam a idéia de Deus. Que sua sentença seja passar três anos na solitária tendo a Bíblia como única companhia.
Maria Madalena destaca-se como testemunha por excelência do evangelho maltrapilho. Na sexta-feira Santa ela assistiu o homem que ela amava ser assassinado da forma mais brutal e desumana. O foco da sua atenção não estava no entanto no sofrimento mas no Cristo sofredor,''que me amou e a si mesmo se entregou por mim” ( Gl 2:20 ). Nunca permita que essas palavras sejam interpretadas alegoricamente na vida de Madalena. O amor de Jesus era uma realidade ardente e divina para ela: ela estaria soterrada na história como meretriz anônima não fosse o encontro com Cristo.

Ela não possuía qualquer compreensão de Deus, de igreja, de religião, de oração ou de ministério a não ser nos termos do homem santo que a amara e entregara a si mesmo por ela. O lugar único que Madalena ocupa na história do discipulado não se deve ao seu misterioso amor por Jesus, mas à miraculosa transformação que o amor dele produziu em sua vida. Ela simplesmente permitiu ser amada.'' A verdade central da qual vida de Madalena se tornaria emblema é que pelo o amor é possível ser liberto das mais ínfera profundezas às resplandecentes alturas onde Deus habita”.

Onde abundou o pecado, a graça abundou ainda mais...
...A igreja professa dos maltrapilhos precisa juntar-se a Madalena e a Pedro no testemunho de que o cristianismo não é primariamente um código moral, mas um mistério permeado de garça; não essencialmente uma filosofia do amor, mas um caso de amor; não é agarrar-se com unhas e dentes a regras, mas é receber um presente de mãos abertas.
Há muitos anos, o renomado teólogo evangélico Francis Schaeffer escreveu: A verdadeira espiritualidade consiste em viver cada momento pela graça de Jesus Cristo. Esse livro não reivindica para si qualquer originalidade; ele é apenas um comentário sobre a declaração de Schaeffer. Como C.S.Lewis gostava de dizer: as pessoas precisam ser mais lembradas do que instruídas.

Brennang Manning.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Essa igreja não existe mais.





“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” At 2:43-47


Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.


Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum) – os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente.


Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo à disposição de todos.
Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas, para servirem ao Criador, no Reino da Luz.
Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia a necessidade deles.
Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.


O pedido: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje." (Mt 6.9) estava respondido, e diariamente.
Então, para haver o “pão nosso” não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.
Mais tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (
At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.
Essa Igreja não existe mais!
Continua.


Por Ariovaldo Ramos.