segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Evangelho maltrapilho


O Evangelho maltrapilho.

O amor de Deus é simplesmente inimaginável:''e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda plenitude de Deus” ( Ef 3:17-19 ).

Será que estamos ouvindo de fato o que Paulo está dizendo? É mais, meu chapa, mais. Dê as costas as percepções empobrecidas, restritas e finitas de Deus. O amor de Cristo está além de toda a compreensão, além de qualquer coisa que possamos intelectualizar ou imaginar. Não se trata de uma branda benevolência, mas de um fogo consumidor. Jesus é tão insuportavelmente perdoador, tão infinitamente paciente e tão infindavelmente amoroso que nos provê com os recursos que carecemos para vivermos vida de graciosa retribuição.''Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória” (Ef 3:20, 21a ).

Isso soa para você como um religião fácil?
O amor tem suas próprias exigências. Ele não pesa e não poupa nada, mas espera tudo. Talvez isso explique nossa relutância em arriscar. Sabemos muito bem que o evangelho da graça é um irresistível chamado a amarmos da mesma forma. Não é de admirar que muitos de nós escolham entregar a alma a regulamentos em vez de vivermos em união com amor.
Não há maiores pecadores do que os supostos cristãos que desfiguram a face de Deus, mutilam o evangelho da graça e intimidam os outros através do medo. Eles corrompem a natureza essencial do cristianismo. Na frase contundente de Eugene Peterson:'' Eles estão dizendo mentiras sobre Deus, e malditos sejam”.

A igreja está numa encruzilhada crítica. O evangelho da graça está sendo transformado e comprometido através de silêncio, sedução e franca subversão. A vitalidade da fé está ameaçada. Os slogans mentirosos dos pilantras que empunham a religião como uma espada multiplicam-se com impunidade.

Que os maltrapilhos em todo lugar ajuntem-se como igreja professa para clamar em protesto. Revoguem-se as licenças dos líderes religiosos que falsificam a idéia de Deus. Que sua sentença seja passar três anos na solitária tendo a Bíblia como única companhia.
Maria Madalena destaca-se como testemunha por excelência do evangelho maltrapilho. Na sexta-feira Santa ela assistiu o homem que ela amava ser assassinado da forma mais brutal e desumana. O foco da sua atenção não estava no entanto no sofrimento mas no Cristo sofredor,''que me amou e a si mesmo se entregou por mim” ( Gl 2:20 ). Nunca permita que essas palavras sejam interpretadas alegoricamente na vida de Madalena. O amor de Jesus era uma realidade ardente e divina para ela: ela estaria soterrada na história como meretriz anônima não fosse o encontro com Cristo.

Ela não possuía qualquer compreensão de Deus, de igreja, de religião, de oração ou de ministério a não ser nos termos do homem santo que a amara e entregara a si mesmo por ela. O lugar único que Madalena ocupa na história do discipulado não se deve ao seu misterioso amor por Jesus, mas à miraculosa transformação que o amor dele produziu em sua vida. Ela simplesmente permitiu ser amada.'' A verdade central da qual vida de Madalena se tornaria emblema é que pelo o amor é possível ser liberto das mais ínfera profundezas às resplandecentes alturas onde Deus habita”.

Onde abundou o pecado, a graça abundou ainda mais...
...A igreja professa dos maltrapilhos precisa juntar-se a Madalena e a Pedro no testemunho de que o cristianismo não é primariamente um código moral, mas um mistério permeado de garça; não essencialmente uma filosofia do amor, mas um caso de amor; não é agarrar-se com unhas e dentes a regras, mas é receber um presente de mãos abertas.
Há muitos anos, o renomado teólogo evangélico Francis Schaeffer escreveu: A verdadeira espiritualidade consiste em viver cada momento pela graça de Jesus Cristo. Esse livro não reivindica para si qualquer originalidade; ele é apenas um comentário sobre a declaração de Schaeffer. Como C.S.Lewis gostava de dizer: as pessoas precisam ser mais lembradas do que instruídas.

Brennang Manning.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Essa igreja não existe mais.





“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” At 2:43-47


Na época do surgimento da Igreja do Novo Testamento, a palavra igreja significava, apenas, uma reunião qualquer de um grupo organizado ou não. Assim, o texto nos revela que havia um grupo organizado em torno de sua fé (Todos os que criam estavam unidos) – todos acreditavam em Cristo.


Segundo o texto, os participantes do grupo do Cristo não tinham propriedade pessoal, tudo era de todos (tinham tudo em comum) – os membros desse grupo vendiam suas propriedades e bens e repartiam por todos – e isso era administrado a partir da necessidade de cada um; e se reuniam todos os dias no templo; e pensavam todos do mesmo jeito, primando pelo mesmo padrão de vida (unânimes); e comiam juntos todos os dias, repartidos em casas, que, agora, eram de todos, uma vez que não havia mais propriedade particular; e eram alegres e de coração simples; e viviam a louvar a Deus; e todo o povo gostava deles, e o grupo crescia diariamente.


Diariamente, portanto, havia gente acreditando em Cristo, se unindo ao grupo, abrindo mão de suas propriedades e bens e colocando tudo à disposição de todos.
Essa Igreja era a Comunhão dos santos – chamados e trazidos para fora do império das trevas, para servirem ao Criador, no Reino da Luz.
Essa Igreja não precisava orar por necessidades materiais e sociais, bastava contar para os irmãos, que a comunidade resolvia a necessidade deles.
Deus havia respondido, a priori, todas as orações por necessidades materiais e sociais, fazendo surgir uma comunidade solidária.


O pedido: “O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje." (Mt 6.9) estava respondido, e diariamente.
Então, para haver o “pão nosso” não pode haver o pão, o bem ou a propriedade minha, todos os bens e propriedades têm de ser de todos.
Mais tarde, eles elegeram um grupo de pessoas, chamadas de diáconos – garçons, para cuidar disso (
At 6.3). Então, diante de qualquer necessidade, bastava procurar os garçons, que a comunidade cuidava de tudo. Era o princípio do direito: se alguém tinha uma necessidade, a comunidade tinha um dever.
Essa Igreja não existe mais!
Continua.


Por Ariovaldo Ramos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O pântano de Mila


O pântano de Mila.
A bazófia é um pântano sombrio e gélido onde o ser coquete se acha, se encontra, encontra a si mesmo. Esbanja revolvendo-se nas águas em lodo, verdes e negras, expele do seu corpo uma substância peçonhenta, escura como esse seu ambiente lúgubre, seu ódio bem lacrado.
Dissimula a cada salto que dá, sua aparência é sua própria essência, os gestos combinados com olhares de disfarce e eloqüência parva, ilumina todo o seu perfil afetado de misantropia cultivada.

Seu sentimento mais nobre é puro esforço em esconder o poço de mágoas que insiste em afogá-la, ela mesma deriva de uma fonte amarga, de um aspecto doente, como se tudo que nascesse do seu interior fosse torpe, fosse sujo, fosse morte. Ela demora nos cálculos apenas para tirar proveito dos outros, nunca se nota o contrario, agindo em frieza não percebe o fato de ser totalmente pobre, cega como uma ambulante em estado de embriaguez e nudez, trancafiada em seu mundo de imaginações preconceituosas, isolando-se de cada um que está a sua volta, ou não enxerga ou finge não vê, acho que a segunda hipótese caberia muito bem quando aparelhada às suas convicções frívolas e tolas. Em matéria de matéria sua obsessão é estar sempre por cima e com uma postura esnobe quase louca que a confunde com o próprio gênero da esquizofrenia.


Não se mexa tanto oh criatura, pois a composições dos elementos que te são vitais não passam de subterfúgios da sua melancolia e do seu jogo de aparências que para mim são apenas cartas marcadas, vejo sua solidão, sua afetação, sua doença está no seu rosto, seus projetos intrínsecos de altivez que amparam sua debilidade social, ou melhor o seu ódio enraizado e consciente pelos outros a aprisionam à sete chaves, ora maltratando-se ora maltratando o outro, não finja tanto, não dissimule tanto, veja que há uma enorme festa bem longe da sua hoste de dramatizações pueris, elas gravitam em torno da sua megalomania e de seus vícios egocêntricos. Faça um favor a si mesma, desengane-se, perceba que todos os seus costumes e objetivos conduziram sua vida apenas a um lugar, um lugar onde tudo e todos sejam peças manipuláveis atendendo os seus caprichos, e esse lugar aos poucos se tornará como que uma carne apetitosa para abutres ensandecidos devorarem parte a parte sua já tão desfigurada imagem...
João Neto

sábado, 17 de outubro de 2009

Perigo: Achamos a vida.


Perigo, achamos a vida, e pior, gostamos.

O nosso mundo está ficando menos acolhedor, dor, isso é o que mais intensamente nos é pungente.
É duríssimo ter que peregrinar em meio a uma infinidade de conflitos, somos transeuntes numa multidão de solitários, andamos lado a lado com a dúvida, aparelhados à distúrbios mentais e traumas de um passado sofrido. Continuamos involuntários a uma troca de olhar ou um simples olá, que nada, as relações não são relações, são lá passatempo contra o tédio contra a angustiante frustração que fervilha dentro da cabeça, no pulmão, no coração, nos lugares inacessíveis da alma.


A decepção tem feito suas vítimas, a depressão também é parceira nas composições dessas sombras que toldam os raciocínios sem distinção de intelectualidade.
Competir para ser bem sucedido, bonito, qual o celular mais avançado, o que fez , o que faz, onde foi...e assim vamos nessa busca por se sentir adequado, realizado. Na verdade toda essa busca tem matado, tem divorciado o que somos daquilo que deveríamos ser, e acabando por não ser o que deveríamos ser, somos sugados por essa centrífuga de frivolidades que tritura toda espécie de admiração e construção de afetos que sensibilizam os carentes de consideração que somos. Há solução? Talvez. Assim como não existe vacina contra o câncer, provavelmente esse surto de individualismo no qual estamos saturados inseridos e maculados, continuará sofrendo as reações inevitáveis e convulsionando seus doentes a cada primavera, pois todas as receitas remediam retardam mas não curam a degeneração de cada célula essencial ao organismo.


Se há algo isolado a ser feito,esse algo se concentra no ideal de cada um, precisamente que tipo de princípios regem a busca pela felicidade, se existe essa tal qual é dita, tal qual é vivida hoje, se nota o paradoxo de seus elementos, em si mesma é desconexa, seus momentos de euforia são só instantes de ausência do que é triste, e que sempre acaba numa dose mais intensa dos efêmeros meios de satisfazer a lassidão do espírito enfatuado. Onde está a esperança então? Na lógica, é lógico. Assim como três menos um é dois, a cada subtração de comportamentos que sabemos ser inadequados, infrutíferos, mesquinhos, de pequena monta, que não geram saúde de iguais, está claro, sobra um, e sempre ele, o espírito indesejado do orgulho, da auto preservação, da dissimulação implícita em formas silenciosas que permeiam nosso jeito de ser sociedade. Morremos inevitavelmente para aquela alegria de companheirismo chamado de amizade.


Os laços são verdadeiros laços de ódio, mata-se entre as nações, mata-se nas grandes corporações, nas instituições religiosas, políticas, no lar, no casamento, entra pais e filhos, entre irmãos, e a pilha de cadáveres continua vivendo e disfarçando sua putrefação em sorrisos amarelados, abraços mecânicos, lisonjas encenadas, é o canibal em seu potencial, engordando a vítima para depois devorá-la. Somos vítimas e protagonistas desempenhando um papel bélico dos iguais contra os diferentes, toleráveis mas não aceitos, é o orgulho gay, é o orgulho negro, é o orgulho de ser branco, é o orgulho dos bens, é o orgulho da pobreza, não por ela, mas o de ser pobre, é o orgulho protestante, é o orgulho católico, é o orgulho americano, é o orgulho de não ser baiano, o orgulho, o orgulho.


Uma inquietação insiste nesse paradoxo do Nazareno, que poderia ser também do pernambucano por ser oriundo do Pernambuco, assim como aquele de Nazaré: Quem achar a vida perde-la-á, quem perder a vida acha-la-á. Tentei sintetizar assim: Achar a vida é se encontrar com tudo aquilo, e basear toda a existência nesse encontro, que me leva a uma grande distância do que é eterno. Perder a vida é desencontrar com tudo aquilo, e basear toda a existência nesse desencontro, que me leva ao limiar daquilo que realmente importa.
Jesus foi o espelho da contrariedade e da renuncia, manso como uma ovelha no meio dos lobos, despojado de quase absolutamente tudo, a não ser suas roupas, e nem essas foram poupadas em sua morte. Ele sentiu o odor da miséria. Pergunto porque essa abnegação estando em forma divina?


Será porque a dificuldade de um rico entrar no reino dos céus se notabilizaria um fato em sua própria vida, quando os portões celestiais praticamente carregam os pobres no colo?
Philip Yancey foi feliz em dizer que a graça é como a água que corre para as partes mais baixas.


Somos quase sete bilhões de pessoas no mundo, e sofremos os mesmos pesares, catástrofes externas, temores internos. Um irlandês estremece diante do desconhecido assim como um amazonense, um austríaco sorri com a maternidade assim como um angolês, e aqui está a esperança, ainda nascemos, ainda temos diversos motivos para a ressurreição, para a reavaliação de atitudes, para reorganização de projetos, o inverno passa e uma flor rebenta na ainda gélida e lívida escassez de humanidade, que como essa flor, nasce pela manhã e a tarde começa a murchar, nosso tempo é curto, e é mil vezes melhor ser inimigo de um dia e desfrutar da amizade por mil anos do que secar debaixo de um sol elétrico.
Os séculos vão se consumindo...

Por João Neto.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vontade de viver


Exausto da morte, cansado do medo, tremulo por não correr e gritar e gritando aos berros dizendo, alegria, vida, sede dessa vida, fome dessa, anseio por essa vida, desejo de vive-la, de te-la nos braços, vestir suas roupas, sentir o seus
cheiros, esse perfume de natureza de óleo viscoso, denso, trás poesia à lembrança, música cheia de nostalgia, ou nostalgia cheia de música, é dessa vida que eu falo, veja lá, ela precisa ser vivida, mesmo dolorida, precisa ser vivida, saboreada, degustada, experimentada, suas mil poções , variadas realizações, seus belos espetáculos tiram o fôlego, quero beijá-la, venha pra mim vida, com todas as suas delícias, suas composições, fragrâncias, sonetos, doçuras, estética, estilo, não me deixe sem ti, pois já vivi uma vida morta pensando que estava vivo, meu Deus que morte mais bem vivida, o quanto isso foi dramático, uma doença que afligia a pele, doía minha existência, era uma asfixia perturbante, constante, só escuro, sem aquela luz no fim do túnel, meu Deus como foi possível tamanha angústia, era como que uma enchente, invade, inunda, arrasta, destrói, cobria , roubava tudo de precioso, foi difícil mas no amargor senti sua doçura, a prova empírica, e é como se tudo fosse um pesadelo, coisa da imaginação, dor não doida, sofrer não sofrido, claro toda treva é inexistência de luz, por isso eu te quero, não vá de mim, não me deixe, fica comigo, seja minha parceira, deixe-me descobri-la , sonhar, gritar, pular, sorrir, acreditar que posso, deixe-me brincar, ser consciente de mim mesmo, da minha inadequação, da minha imperfeição, da minha vontade inconstante, deixa eu viver, esteja comigo, na alegria na tristeza na riqueza na pobreza na vida na morte, que eu viva, pois da morte estou exausto.
João Neto

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma Silva susessora de um silva?



Uma Silva sucessora de um Silva? Não estou ligado a nenhum partido, pois para mim partido é parte. Eu como intelectual me interesso pelo todo embora, concretamente, saiba que o todo passa pela parte. Tal posição me confere a iberdade de emitir opiniões pessoais e descompromissadas com os partidos.De forma antecipada se lançou a disputa: Quem será o sucessor do carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva? De antemão afirmo que a eleição de Lula é uma conquista do povo brasileiro, principalmente daqueles que foram sempre colocados à margem do poder. Ele introduziu uma ruptura histórica como novo sujeito político e isso parece ser sem retorno. Não conseguiu escapar da lógica macro-econômica que privilegia o capital e mantém as bases que permitem a acumulação das classes opulentas. Mas introduziu uma transição de um estado privatista e neoliberal para um governo republicano e social que confere centralidade à coisa pública (res publica), o que tem beneficiado vários milhões de pessoas. Tarefa primeira de um governante é cuidar da vida de seu povo e isso Lula o fez sem nunca trair suas origens de sobrevivente da grande tribulação brasileira.Depois de oito anos de governo se lança a questão que seguramente interessa à cidadania e não só ao PT: quem será seu sucessor? Para responder a esta questão precisamos ganhar altura e dar-nos conta das mudanças ocorridas no Brasil e no mundo. Em oito anos muta coisa mudou. O PT foi submetido a duras provas e importa reconhecer que nem sempre esteve à altura do momento e às bases que o sustentam. Estamos ainda esperando uma vigorosa autocrítica interna a propósito de presumido “mensalação”. Nós cidadãos não perdoamos esta falta de transparência e de coragem cívica e ética.Em grande parte, o PT viou um partido eleitoreiro, interessado em ganhar eleições em todos os níveis. Para isso se obrigou a fazer coligações muito questionáveis, em alguns casos, com a parte mais podre dos partidos, em nome da governabilidade que, não raro, se colocou acima da ética e dos propósitos fundadores do PT.Há uma ilusão que o PT deve romper: imaginar-se a realização do sonho e da utopia do povo brasileiro. Seria rebaixar o povo, pois este não se contenta com pequenos sonhos e utopias de horizonte tacanho. Eu que circulo, em função de meu trabalho, pelas bases da sociedade vejo que se esvaziou a discussão sobre “que Brasil queremos”, discussão que animou por decênios o imaginário popular. Houve uma inegável despolitização em razão de o PT ter ocupado o poder. Fez o que pôde quando podia ter feito mais, especialmente com referência à reforma agrária e a inclusão estratégica (e não meramente pontual) da ecologia.Quer dizer, o sucessor não pode se contentar de fazer mais do mesmo. Importa introduzir mudanças. E a grande mudança na realidade e na consciência da humanidade é o fato de que a Terra já mudou. A roda do aquecimento global não pode mais ser parada, apenas retardada em sua velocidade. A partir de 23 de setembro de 2008 sabemos que a Terra como conjunto de ecosissitemas com seus recursos e serviços já se tornou insustentável porque o consumo humano, especialmente dos ricos que esbanjam, já psssou em 40% de sua capacidade de reposição. Esta conjuntura que, se não for tomada a sério, pode levar nos próximos decênios a uma tragédia ecológicohumanitária de proporções inimagináveis e, até pelo final do século, ao desaparecimento da espécie humana. Cabe reconhecer que o PT não incorporou a dimensão ecológica no cerne de seu projeto político. E o Brasil será decisivo para o equilíbrio do planeta e para o futuro da vida. Qual é a pessoa com carisma, com base popular, ligada aos fundamentos do PT e que se fez ícone da causa ecológica? É uma mulher, seringueira, da Igreja da libertação, amazônica. Ela também é uma Silva como Lula. Seu nome é Marina Osmarina Silva. Leonardo Boff é autor do livro Que Brasil queremos? Vozes 2000.

Por Leonardo Boff.

Confissões de um ex dependente de igreja


Por Paulo Brabo

Estocado em Fé e Crença
Outro dia um pastor observou que eu deveria confessar ao leitor impenitente da Bacia, que não tem como concluir isso lendo apenas o que escrevo, que não vou à igreja faz mais de dez anos. Ele dava a entender que essa confissão provocaria uma queda sensível na minha popularidade; percebi imediatamente que ele estava certo, e que mais cedo ou mais tarde teria, para podar os galhos da celebridade (porque a fama é uma espécie de compreensão), deixar de contornar indefinidamente o assunto.
Quanto mais penso na questão, no entanto, mais chego à conclusão que o que tenho de confessar é o contrário, e ao resto do mundo, não aos amigos que convivem com desenvoltura entre termos como gazofilácio, genuflexão, glossolalia e graça irresistível. Devo explicações à gente comum que vê o domingo, incrivelmente, como dia de descanso – dia de ir à praia, de andar de bicicleta no parque, de abraçar os amigos ao redor de um churrasco, de correr atrás de uma bola ou de encontrar a paz diante de uma lata de cerveja e uma tela radiante.
Preciso confessar que durante trinta anos fui consumidor de igreja. Durante trinta anos fui dependente de igreja e trafiquei na sua produção.
Devo confessar o mais grave, que durante esses anos abracei a crença (em nenhum momento abalizada pela Escritura ou pelo bom senso) que identificava a qualidade da minha fé com minha participação nas atividades – ao mesmo tempo inofensivas, bem-intencionadas e auto-centradas – de determinada agremiação. Em retrospecto continuo crendo em mais ou menos tudo que cria naquela época, porém essa crença confortante e peculiar (espiritualidade = participação na igreja institucional) fui obrigado contra a vontade, contra minha inclinação e contra a força do hábito, a abandonar.
Preciso deixar claro que não guardo daqueles anos qualquer rancor; de fato não trago deles nenhuma recordação que não esteja envolta em mantos de nostalgia e carinho. Ao contrário de alguns, não sinto de forma alguma ter sido abusado pela igreja institucional; sinto, ao invés disso, como se tivesse sido eu a abusar dela. Minha impressão clara não é ter sido prejudicado pela igreja, mas de tê-la usado de forma contínua e consistente para satisfazer meus próprios apetites – apetites por segurança, atenção, glória, entretenimento, aceitação.
Se hoje encaro aqueles dias como uma forma de dependência é porque acabei aceitando o fato de que a igreja como é experimentada – o conjunto de coisas, lugares, atividades e expectativas para as quais reservamos o nome genérico de igreja – representam um sistema de consumo como qualquer outro. As pessoas consomem igreja não apenas da forma que um dependente consome cocaína, mas da forma que adolescentes consomem telefones celulares e celebridades consomem atenção – isto é, com candura, com avidez, mas muitas vezes para o seu próprio prejuízo.
Todo sistema de consumo confere alguma legitimação, isto é fornece ao consumidor pequenas seguranças e pequenas premiações que fazem com que ele se sinta bem, sinta-se uma pessoa melhor (ou em condições privilegiadas) por estar desfrutando de um produto ou serviço de que – e isto é importante na lógica interna da coisa – não são todos que desfrutam.
As igrejas institucionais, por mais bem-intencionadas que sejam (e, creia-me, há muito mais gente bem-intencionada envolvida na criação e na sustentação delas do que seria de se supor) funcionam precisamente dessa maneira. Não é a toa que tanto a palavra quanto o conceito propaganda nasceram, historicamente falando, nos salões eclesiásticos. Se hoje há shopping centers e roupas de marca é porque a igreja inventou o conceito de propaganda e de consumo de massa. Foi a igreja a primeira a vender a idéia de que vestir determinada camisa e ser visto em determinada companhia demonstram eficazmente o seu valor como pessoa; foi a primeira a promover a noção simples (mas cujo tremendo poder as corporações acabaram descobrindo) de que o que você consome mostra que tipo de pessoa você é.
As pessoas que consomem igreja não têm em geral qualquer consciência de que estão se dobrando a um sistema de consumo, mas as evidências estão ali para quem quiser ver. A igreja não é um lugar a que se vai ou um grupo de pessoas que se abraça, mas uma marca que se veste, um produto que se consome continuamente. Tudo de bom que costumamos dizer sobre a igreja reflete, secretamente, essa nossa obsessão com o consumo – “o louvor foi uma benção”, “o sermão foi profundo”, “o coro cantou com perfeição”, “a palavra atingiu os corações”, “Deus falou comigo”. Em outra palavras, tudo que temos a dizer sobre a experiência da igreja são slogans. Na qualidade de consumidores, o que fazemos é retroalimentar nossa dependência, promovendo continuamente nosso produto na esperança de angariar mais consumidores e portanto mais legitimação.
O curioso, o verdadeiramente paradoxal, é que nada nesse sistema circular de consumo (ou em qualquer outro) tem qualquer relação com espiritualidade, com fé ou com a herança de Jesus. Ao contrário, sabemos ao certo que Jesus e os apóstolos bateram-se até a morte no esforço de demolir a tendência muito humana de encarcerar (isto é, satisfazer) os anseios emocionais e espirituais das pessoas em sistemas de consumo e legitimação (isto é, sistemas de controle).
O russo Leo Tolstoi acreditava que, diante da suprema singeleza do ensino de Jesus, levantar (e em seu nome!) uma máquina implacável e arbitrária como a igreja equivalia a restaurar o inferno depois que Jesus tornou o inferno obsoleto. De minha parte, vejo a igreja institucional como um refúgio construído por mãos humanas para nos proteger das terríveis liberdades e responsalidades dadas por Deus a cada mortal e que Jesus desempenhou de modo tão espetacular. Por outro lado, talvez esse refúgio seja ele mesmo o inferno.
No fim das contas você não encontrará na igreja nada que não seja inteiramente atraente e desejável, e aqui está grande parte do problema. Vá a um templo evangélico no domingo de manhã e o que vai encontrar é gente amável, respeitável, ordeira, de banho tomado, sorridente, perfumada e usando suas melhores roupas – e é preciso reconhecer que há um público para esse tipo irresistível de companhia. O bom-mocismo reinante é tamanho, na verdade, que não resta praticamente coisa alguma do escândalo inicial do evangelho. Enquanto descansamos nesse abraço comum a verdadeira igreja, onde estiver (e talvez exista apenas no futuro), estará por certo mais próxima do dono do bar, da vendedora de jogo do bicho, do travesti exausto da esquina, do divorciado com seu laptop, dos velhinhos que babam em desamparo e das crianças que alguém deixou para trás. Certamente não usará gravata e não terá orçamento anual nem endereço fixo.
Portanto nada tenho contra aquilo que a igreja diz, que é em muitos sentidos bom e justo, mas não tenho como continuar endossando aquilo que a igreja dá a entender – sua mensagem subliminar, por assim dizer, mas que fala muitas vezes mais alto do que qualquer outra voz. Com o discurso eclesiástico oficial eu poderia conviver indefinidamente (como de fato já fiz), mas seu meio é na verdade sua mensagem, e frequentar uma igreja é dar a entender:
1. Que aquela facção da igreja é de algum modo mais notável, e portanto mais legítima, do que todas as outras;2. Que o modo genuíno de se exercer o cristianismo é estar presente nas reuniões regulares e demais atividades de determinada agremiação, ou seja, que a devoção é uma espécie de prêmio de assiduidade;3. Que o conteúdo da crença é mais importante do que o desafio da fé;4. Que o caminho do afastamento do mundo, segundo o exemplo de João Batista, é mais digno de imitação do que o caminho do envolvimento com o mundo, segundo a vida de Jesus;5. Que o modo de vida baseado na busca circular pela legitimação é mais respeitável do que o das pessoas que conseguem viver sem recorrer a esses refrigérios;6. Que o modo adequado de honrar a herança de Jesus é dançar em celebração ao redor do seu nome, ignorando em grande parte o que ele fez e diz.
Está confirmada, portanto, a ambivalência da minha posição em relação à igreja institucional. Por um lado, sinto falta dos seus confortos; por esse mesmo lado, respeito a inegável riqueza de sua herança cultural, que não gostaria de ver de modo algum apagada. Por outro lado, ressinto-me de que o nome singular de Jesus permaneça associado a um monstro burocrático no que tem de mais inofensivo e opressor no que tem de mais perverso, quando sua vida foi a de um matador de dragões dessa precisa natureza. Dito de outra forma, não tenho como condenar a permanência de alguma manifestação da igreja, mas não tenho como justificá-lo se você faz parte de uma.
Em janeiro de 1996 Walter Isaacson perguntou a Bill Gates a sua posição sobre espiritualidade e religião. Sua resposta entrará para os anais da infâmia – e não a dele. “Só em termos de alocação de recursos, a religião já não é coisa muito eficiente. Há muita coisa que eu poderia estar fazendo domingo de manhã”. Em resumo, o que dois mil anos de cristianismo institucional ensinaram ao homem mais antenado da terra é que religião é o que os cristãos fazem no domingo de manhã.
Só não ouse criticar o cara por sua visão rasa de espiritualidade. Fomos nós que demos essa impressão a ele, e só a nós cabe encontrar maneiras de provar que ele está errado.
Invente uma.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O caminho ainda virgem?


Olhe para seus antepassados,

Jacó um mentiroso,

Raabe uma prostituta, Rute cheia de insinuações sensuais.

Davi um adúltero-assassino. O pai José queria abandonar a esposa por suspeitar de traição.

Seu nascimento sem nenhum repórter, sem pompa, nasceu num tabuleiro em uma cidade ínfima.

Bem cedo a morte o ronda, não teve a mesma sorte ou azar de uma multidão de bebes, mortos por Herodes o grande idiota.

Quem é esse questionam seus amigos.

Quem é você, encaram seus inimigos.

Enquanto isso na sala da justiça, a raça pura e límpida como as águas do rio tiête escumam suas substâncias, vem alguma coisa boa de Nazaré, do Piauí, do Heliópolis?

Aquele bebum,que come churrasco com o beira-mar, e transforma água em caipirinha no casamento da Galisteu, se diz Deus, deus das moscas, bufam seus algozes,

Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor!

Crucifica-o esse maldito enganador!

Zé povinho foi pra grupo, grupo global.

Vinagre amargo, sol e calor, sangue e suor, e dor, muita dor.

Desce dai médico, salvou os outros, salva a você mesmo! Resmunga a filosofia burra da ninhada de cobras, que se alegra em ver um homem morrer, e aos poucos, paulatinamente morre, esse ainda incompreendido Jesus.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Aurora


O Dr. King imbuído do Nazareno palavreou à Gandhi,

será que o Neto conseguirá?

Fui da biblía à Victor Hugo,

Victor Hugo me disse," volte à ela",

Rubem alvejou minha imprecisão,

seu presbitério ficou no passado, mas Deus não.

O corredor Gondim me deu fôlego,

cercou-me em suas reflexões cearences.

Cá estou reconstruindo-me,

a cada fragmentação, desiludindo-me.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fruto da própria ignorância.


Ele separa um fato, extrai um versículo, cria um pensamento e inventa seu próprio convento, conveniente a ele e aos seus seguidores que a cada semana a cada domingo, a cada festa, a cada celebração, constroem a doutrina da adoração, mas a verdade enrustida por trás dessa máscara de compromisso e devoção, se nota o princípio da sanguessuga e suas filhas, as princesas dá e dá, jovens senhoritas mesquinhas consumidoras de shopping centers.

Ele trabalha seu séquito com maestria política, desenvoltura militar, psicologia falida a auto-destrutiva, adora exigir subserviência ao seu séquito por estar convicto de ser um ser especial envolto numa aura de grandeza espiritual, onde suas palavras são poder, prognósticos e profecias infalíveis, destroem familias inteiras por essas não estarem debaixo de seu autoritarismo, sim, é idôneo à arbitrariedade, e insinua poder por falta de autoridade.

Seus seguidores o servem por cortesia, a fim de proveito próprio se encaram num jogo de encenação dignas de hollywood, dizimam esperando o dobro ou um carro novo, esquecem que pagam alugueis e prestações bem fixas de seu tão estimado monte de latas amassável como toda sua frágil e incongruente teologia, ignora a elite abastada que tem por religião o ateísmo, quando fundamentam o teísmo como fonte de lucro, impensantes, semelhantes ao seu próprio deus projetado por sua mente capitalista, se tornam inimigos da cruz de Cristo, o deus deles é o próprio ventre, transformam a pedra em pão, pulam do pináculo do templo" revelando" serem a última bolacha do pacote, seres incongruentes, à vocês a minha pena e a de Deus, a minha escreve...


( João Neto )

Desvantagem


Antes de mim,

eu passar a ser,

me antecedia suspensa,

invade o parto,

um quarto de hora de dor,

dá crise a casa,

casa dor à causa de:

desvantagem,

lá estava,

lá ficava,

nada dava,

passei a intuí-la,

passo esse em desvantagem,

pois me punha muito aquém,

do que é avante,

da vantagem,

lá estava,

lá ficava,

suspensa,

hoje intuida,

suspendo-a.

( João Neto )

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Resignação visceral.


O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo quase gigante e sinuoso,aparenta a translação de membros desarticulados.Agrava-o a postura normalmente abatida,num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente.A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra;a cavalo,se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido,cai logo sobre um dos estribos,descansando sobre a espenda da sela...
É um homem permanentemente fatigado.Reflete a preguiça invencível,a atonia muscular perene,em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito,no andar desaprumado,na cadência langorosa das modinhas,na tendência constante à imobilidade e à inquietude.Entretanto, toda essa aparência de cansaço iludi.Nada é mais surpreendedor do que vê-lo desaparecer de improviso.Naquela organização combalida operam-se,em segundos,transmutações completas...o homem transfigura-se.empertiga-se,estadeando novos relevos,novas linhas na estatura e no gesto e a cabeça firma-se-lhe, alta,sobre os ombros possantes,aclarada pelo olhar desassombrado e forte,e corrigem-se-lhe,prestes,numa descarga nervosa e instantânea,todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos,e da figura vulgar do tabaréu canhestro,reponta,inesperadamente,o aspecto dominador de um titã acobreado e potente,num desdobramento de força e agilidade extraordinária.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Se eu fosse um padre.

Mário QuintanaSe eu fosse um padre,
eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!
( Mário quintana )

Perguntaram ao Dalai Lama:
- O que lhe surpreende na Humanidade?
- Os homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro; depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
...E morrem como se nunca tivessem vivido.

Biografia de Dalai Lama aqui.

13/04/09

LÁ VEM A FALSIDADE...


- Tais Luso de Carvalho

Dias atrás, fui ao shopping comprar um cordão de ouro para sustentar uma medalhinha. Fui de jeans, camiseta branca, uma rasteirinha (sandália baixa) e um bolsão. Tudo básico. Não tinha o porquê ir de salto alto e produzida às 3 horas da tarde. Entrei numa joalheria, de nome, de grife. Quando saí é que vi o 'nome'.

Senti como se tivesse entrado numa casa de deficientes visuais: ninguém me enxergou. Depois de algum tempo veio a vendedora: ‘e pra ti, querida?’ Ah, meu Deus... se há algo que me tira dos trilhos é o tal do ‘querida’: aquele abominável ‘querida’ pra achincalhar. Coisa de vendedora (com todo o respeito).

Há alguns anos usava-se o ‘filhinha’: e pra ti, filhinha? Meu humor mudava na hora! Lembro que minha filha - ainda pequena - começava a me cutucar para eu dar uma 'maneirada', ser mais educadinha; era pior: eu enfatizava mais o deboche da vendedora.

Bem, mas voltando ao shopping...

Pedi alguns cordões de ouro para ver. A ‘sirigaita’ foi se arrastando... totalmente vazia de vontade em mostrar os tais cordões. Mostrava olhando para a colega... Vi, remexi, baguncei o mostruário e agradeci. Saí roxa, meio nauseada.

Então fiquei pensando nas pessoas humildes que entram num banco para abrir conta e são vistas com desconfiança; pensei nas pessoas que vão atrás de atendimento médico do SUS; pensei nas pessoas que querem abrir crédito numa loja e esperam, meio que constrangidas, pela aprovação de seu nome. Pensei em muitas coisas... Inclusive nas quem têm dinheiro e não esperam por nada. São agraciadas com cafezinho.

E vejo, então, que esta hipocrisia é uma imposição de uma sociedade que diz: tenha uma aparência de pessoa chique, bem apessoada, de bom berço para ser bem atendida. Simule, seja artista, minta. Assim estará garantido um bom atendimento. Então tá.

Pois bem, amigos, a melhor filosofia para ir às compras é lançar mão do melhor coadjuvante: a roupa e a empáfia! Mesmo que você tenha tudo de bom e for uma pessoa agradavelmente simples, sem frescuras - o que é elogiável -, nestas santas horas não funciona, é preciso representar: é preciso estampar (na testa) que você tem esta porcaria de dinheiro para comprar o que procura; é preciso mostrar para o seu médico que você tem dinheiro para bancar uma cirurgia ou um tratamento caro; é preciso mostrar para o gerente do banco que você vai ser bom investidor; é preciso mostrar que você tem! Mesmo que não tenha. O tratamento que dispensarão a você será coisa pra cachorro grande. É assim que funcionam as coisas neste terceiro mundo dos confins. Infelizmente.

Nos países de primeiro mundo não sei como funciona; mas não deve ser muito diferente: a matéria-prima é a mesma...
.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um enconto ideal.


O lugar não era nenhum clube mas tinha na placa Club House, rua Oratório, Santo André.À minha esquerda o Leandro, à minha direita o Ticão (Anderson), poucos sabiam seu nome, se soubessem diriam:"É um apelido",era um rapaz com uma profunda cicatriz familiar, vivia com seus tios, seus pais já haviam falecido, era falador, gesticulador, não tinha emprego, profissão, sonho ou ideal, usava sempre o mesmo boné, não sei se o lavava, existia apenas uma pessoa que dava atenção aos seus devaneios conceituais, que vinham de uma experiência adquirida pela intensa convivência nas ruas,eu,tinha uma dificuldade aguda de ouvir conselhos,seu maior medo era ser contrariado,sempre se constrangia com críticas pessoais quando essas atingiam o seu estilo parasita de ser.

Já o Leandro era meigo,contextualizado,alegre,humorado, carente,contente,generoso,gastava seu dinheiro sem afetação,sempre em prontidão à emprestar,tinha uma disposição densa quando o assunto era amizade.

No meio dos dois a Vera,também perdera seu pai e vivia com sua mãe Sônia,uma mulher amarga que deixara muitos traços em sua filha, uma menina simpática,tinha um sorriso lindo,sempre quando sorria notava-se duas covinhas em suas bochechas rosadas,que segundo minha mãe eram os buraquinhos da beleza,uma beleza que me encantava em suas tranças e em seus traços,um comportamento que andava na contra mão da futilidade,não havia semelhança com as outras e nunca era vista em grupos,posicionava-se com uma atitude sóbria de não ser nenhuma "Maria vai com as outras" ou gasolina.

Naquela noite seus olhos vagueavam ora no Leandro ora no Anderson,nunca paravam nos meus,era como um sinal,palavras ditas sem pronúncias,como se estivesse berrando "estou brava mais te quero", entendi perfeitamente,isso causou um tremor na barriga, meu coração pulsava mais rápido,me sentia feliz pois aquela menina de postura forte,de postura pessoal marcante,dissimulava querendo atingir a mim e sobretudo usava minha camiseta branca que cobriam os joelhos,quase que uma freira grafiteira,linda.

Nunca dera um indício tão evidente como esse ,minha auto-estima frígida degelava sob o calor daquela noite,as batidas eram comum aos ouvidos,as luzes as pessoas,as roupas,a hora,mas o momento não ,desgarrou-se da história,pois descendo a rua Oratório,ela punha seu braços entrelaçados aos meus como noivos em marcha nupcial,senti pela primeira vez sua pele, seu cheiro, sua juventude cheia de energia,seu corpo junto ao meu,sua voz,sua personalidade mais amplamente absorvida pela minha admiração.Em momentos como esse, jovens quiméricos tornam-se céticos por vislumbrar deslumbrado expectativas tão viscerais,sendo realizadas em situação tão impensadas,não acreditei.

Na estação de trem, em Santo André,foi um desses momentos que emprestam razão aos romances,as novelas,aos filmes,ela encostada em uma coluna,eu com as mãos em sua cintura,seus olhos brilhantes,alegres,me atraíam ao passo que seus lábios me traíam,fugiam dos meus,uma brincadeira de gato a caça da gata,aumentava os desejos e a adrenalina do momento,rostos ruborizados,o sangue circulava quente,no momento que nossos lábios se tocaram,houve um não selinho,mas um selo de significação e afeição permanente que perdura por dez anos,tanto naquele instante da história, como nessa fatia de tempo, o hoje, a menina não só cresceu mas se idealizou como esposa e mulher e por significar o que significa essa mulher ao narrador, imortalizo aqui seu encontro ideal.

João Neto Felix

sábado, 30 de maio de 2009

O que será uma religião?



A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do coração do homem, a revelação dos seus pensamentos mais íntimos, a confissão pública dos seus segredos de amor.
Como forem os pensamentos e as disposiçôes do homem, exatamennte isto e não mais será o valor do seu Deus.
Consciência de Deus é autoconsciência, conhecimenro de Deus é autoconhecimento.
Deus é a mais alta subjetividade do homen...Este é o mistério da religião: o homem projeta o seu ser na objetividade e então se transforma a si mesmo num objeto face a esta imagem, assim convertida em sujeito.
( Ludwig Feuerbach )
Será...

Uma silhueta informe.


Não sou da favela, mas imagino um quotidiano paradoxal, alegre e angustiante, triste mas muito feliz, sombrio e maldoso mas amigável e cheio de solidariedade, uma conexão que sana a necessidade, ali encontramos verdadeira cooperação, e dessa união comunitária, nasce os filhos do morro, o rap e o pagode, por hora confabulemos do rap, ritmo e poesia, na verdade ritmo e prosa, pouca poesia, quase que repentistas urbanos, com versos saturados de dor e angústia, intensamente imersos numa vontade de desabafo incontida, que é extravazada através de um microfone e de instrumentais americanas e das mais variadas ideologias políticas, formando no subterrâneo da sociedade um duto de informaçôes que vão e vem transitando entre nomes como os Racionais Mcs e G.O.G e etc, preconizando aos ouvintes um despertar social forjado na consciência individual visando a trasformação coletiva, dessa conjuntura temos uma figura bastante peculiar e distinta em seu modo de ser, " O movimento hip-hop".

Formei um grupo de três aos dezoito em noventa e sete, Influência Vital, influênciar à vida, uma propasta simples, mas ainda vago na mente de um jovem-homem informe intelectual e sociológicamente, desfez-se o grupo enfim, a proposta não, ela não se desfaz quando se é essência, e uma essência nutrida mesmo confusa e sofrendo alteraçôes, possui sua própria alma e fôlego nas maiores tempestades da vida, injustiça, preconceito, fome, exploração, desdem dos parlamentares que dizem se "lixar" para a opinião pública, a ciência dos fatos horrendos que se infiltram em toda as camadas da sociedade, dos relacionamentos, da religião, da política, da arte, da música, e cabe analisar o rap como música esse Titã marginal,
  1. Sua força se originou de um amamentamento proficiente," a indignação que a miséria produz", esse cadino que engendra um poder inato de inadequação à uma realidade sôfrega, por ser oriunda d uma balança fraudulenta, ou seja, revolta e paixão por uma vida livre de preconceitos e das algemas que impede essa liberdade.
  2. Apesar das letras que desmoronam toda a pretensão burguesa, da força das batidas emaranhadas em prosas temperadas com auto-estima, consciência social, situação política, falta ao rap não muita coisa, que está logo ali, é a musicalidade, a excelência como arte, a beleza que chega aos ouvidos e encanta os ouvintes.
Sem perder sua razão é necessária sua transformação, ou uma modificação estética, uma cirurgia plástica nesse "Frankstein desengonçado", que precisa se alinhar em compreensão as mudanças que gravitam interna e externamente ao seu corpo colossal.
( João Neto )

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Contingências


Se alguma coisa é espantosa, se existe uma realidade que ultrapassa o sonho, é isto, ver o sol, entrar em plena posse da força viril, ter saúde e alegria, rir abertamente, correr em direção a uma glória resplandescente que temos diante de nós, sentir no peito um pulmão que respira, um coração que pulsa, uma vontade que raciocina; falar, pensar, ter esperança, amar, ter mãe, ter mulher, ter filhos, ter aluz, e, de repente, em menos de um minuto, o tempo de um grito, afundar em um abismo, cair, rolar, esmagar, ser esmagado; ver as astes do trigo, flores, folhas, ramos, sem pode agarrar-se a nada, sentir inútil sua espada, sentir homens por baixo de si e cavalos por cima, debater-se em vão, os ossos quebrados por algum coice na escuridão, sentir um calcanhar que lhe faz saltar os olhos,morder com raiva as ferraduras dos cavalos, sufocar, berrar, se retorcer, estar lá embaixo e dizer: ainda há pouco eu estava vivo.
Os miseráveis, Victor Hugo, pag.352.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A nova Eva


A Eva de ontem teve consciência do mal, e se cobriu;
A Eva de hoje tem consciência do bem, mas se despiu.
( João Neto )

domingo, 3 de maio de 2009

Bela vida



Agora passo por um breve instante;
Sem nenhuma ação percebo a causa;
Momento esse,frio,dominante,constante e perturbante;
Que me arrasta a esse breve pausa;

Pensar e repensar a vida;
Que de bela tem e muito;
menos na ótica cínica e distorcida;
Desse louco e finito mundo.

Nunca é demais,tolo é parar e voltar atrás;
Acredite meu amigo as horas passam;
Engolem o tempo num apetite voraz;

Pensar,agir também,necessário é ousar;
Atitude com ferverscência,mudar para melhorar;
Garimpar as forças inclusas e inativas nas minas da inteligência;

E alcançar um novo,ou melhor o novo...
Processo contínuo que me dá acesso ao belo viver;
Resgata as virtudes sublimes de um novo prazer;
Não mais apenas sobreviver,mas também morrer;
Sol a sol,aos poucos,enveredar a estrada;
reputada estrada dos loucos;

E é nela que vou,vou lutar,vou perder,vou vencer,vou orar,vou ler,vou;
porque á inércia não me dou;

Vou causar os efeitos da esperança;
vou mover os entulhos da apatia;
vou tirar os problemas da lembrança;
E compor essa poesia com graça e simpatia;
sorrir ao brilho de cada dia;
cantar ao Criador uma música,como que uma sinfonia singela;
ÓH meu Deus,eu te quero,eu te amo,em teus braços a vida é vida;
abundante e bela.

(Essa poesia foi escrita no ano de 2007,João neto).