segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Um covarde a menos


Estou em 2010 lendo Ilusões perdidas de Honoré de Balzac, livro que fala sobre a vida de um escritor provinciano ( Lucien seu nome), que tenta se tornar um grande escritor na portentosa e intelectualmente rica Paris.

Ao caminho do emprego, ouço no celular o programa reflexões com o pastor Ricardo Gondim, arguto expositor das linhas sagradas, quase irretocáveis, quase.

Pois bem, Ricardo discorria sobre o trágico episódio em que o rei Davi engravida Berseba e assassina cruelmente o seu marido.

No decorrer de sua explanação meu admirável amigo, ao meu ver, cometeu um pequeno deslize, ele atribui o fato da morte de seu filho devido o pecado da mulher, e não à Davi, e em seguida o nascimento de uma outra criança, justamente por misericórdia à Davi.

Acredito que a morte dessa criança fora um julgamento pré-estabelecido por Deus condenando toda a atitude criminosa e safada criada pelo rei.

Como de Deus emana compaixão, toda ela foi dirigida à Berseba, que novamente deu à luz, e esse menino seria Salomão o próximo sucessor ao trono. Por isso Jesus me perturba, nele reside toda a subversão, toda quebra de paradigmas, todo o desmantelamento de preceitos rigorosamente defendido como verdade última.

Ele subverte até o velho testamento onde o machismo impera, o sexismo reina, a intolerância governa.

E a partir desses fatores tudo o que foi redigido o fora justamente para manter viva a história de um povo e estabelecer sua nação e religião, mas ocultaram os detalhes, que não são detalhes, para eles foram detalhes, para nós é a micro história dos sub julgados pela mente de escribas e sacerdotes que imaginam serem superiores e acreditam estarem acima do povo invisível.

Berseba não foi invisível, ou ainda, não menos visível que um grande e louvado Rei de Israel. Jesus não foi nada, nem Rei, nem sacerdote, nem escriba, nem fariseu, não foi procônsul, não dominou, não guerreou, não extorquiu, não enriqueceu, nada disso, apenas andou e andando amou.

Nele todas as histórias, macro ou micro são importantes, todas as pessoas são percebidas por ele, ou seja, não há diferença entre homem e mulher, Rei e servo, sua larga e sábia com paixão não admite títulos ou méritos por feitos.

Viva o transgressor Jesus, que não come do prato da covardia do homem, apesar de ser um de nós.

Por João Neto

O verdadeiro Deus


Uma noção de Deus falsa e ilusória...o vê como aquele que me dirige sua graça quando sou bom, mas me pune de modo implacável quando sou mal. Essa é uma noção tipicamente patriarcal de Deus.

Ele é o Deus de Noé, que vê pessoas mergulhadas no pecado, se arrepende de tê-las criado e resolve destruí-las. Ele é o Deus do deserto, que envia serpentes para picar seu povo porque murmurou contra ele.

É o Deus de Davi, que praticamente dizima um povo porque seu rei, talvez motivado pelo orgulho, insiste em fazer um censo de seu império. Ele é o Deus que extrai até a última gota de sangue de seu filho de modo que sua justa ira, atiçada pelo pecado, possa ser aplacada.

Esse Deus, cujos humores se alternam entre graça e ira ardente, ainda familiar demais entre muitos cristãos, é uma caricatura do verdadeiro Deus.

Essa Deus não existe. Não é o Deus que Jesus nos revela. Nem o Deus que Jesus chamou de “Aba”.

Por William Shannon.

A doutrina erudita


Nós, matreiros e ladinos, agimos como se não entendêssemos o Novo Testamento porque compreendemos muito bem como deveríamos mudar de maneira drástica nosso jeito de viver. É por isso que inventamos a “educação religiosa” e a “doutrina cristã”.

Precisamos de mais uma concordância, outro dicionário, mais alguns comentários, três outras traduções, pois tudo é muito difícil de entender.

Sim, é claro, amado Deus, todos nós, capitalistas, oficiais, ministros, proprietários de casa, mendigos, a sociedade inteira, estaríamos perdidos se não fosse a “doutrina cristã”!

Novamente sarcástico, por Sören Kierkegaard.