terça-feira, 2 de junho de 2009

13/04/09

LÁ VEM A FALSIDADE...


- Tais Luso de Carvalho

Dias atrás, fui ao shopping comprar um cordão de ouro para sustentar uma medalhinha. Fui de jeans, camiseta branca, uma rasteirinha (sandália baixa) e um bolsão. Tudo básico. Não tinha o porquê ir de salto alto e produzida às 3 horas da tarde. Entrei numa joalheria, de nome, de grife. Quando saí é que vi o 'nome'.

Senti como se tivesse entrado numa casa de deficientes visuais: ninguém me enxergou. Depois de algum tempo veio a vendedora: ‘e pra ti, querida?’ Ah, meu Deus... se há algo que me tira dos trilhos é o tal do ‘querida’: aquele abominável ‘querida’ pra achincalhar. Coisa de vendedora (com todo o respeito).

Há alguns anos usava-se o ‘filhinha’: e pra ti, filhinha? Meu humor mudava na hora! Lembro que minha filha - ainda pequena - começava a me cutucar para eu dar uma 'maneirada', ser mais educadinha; era pior: eu enfatizava mais o deboche da vendedora.

Bem, mas voltando ao shopping...

Pedi alguns cordões de ouro para ver. A ‘sirigaita’ foi se arrastando... totalmente vazia de vontade em mostrar os tais cordões. Mostrava olhando para a colega... Vi, remexi, baguncei o mostruário e agradeci. Saí roxa, meio nauseada.

Então fiquei pensando nas pessoas humildes que entram num banco para abrir conta e são vistas com desconfiança; pensei nas pessoas que vão atrás de atendimento médico do SUS; pensei nas pessoas que querem abrir crédito numa loja e esperam, meio que constrangidas, pela aprovação de seu nome. Pensei em muitas coisas... Inclusive nas quem têm dinheiro e não esperam por nada. São agraciadas com cafezinho.

E vejo, então, que esta hipocrisia é uma imposição de uma sociedade que diz: tenha uma aparência de pessoa chique, bem apessoada, de bom berço para ser bem atendida. Simule, seja artista, minta. Assim estará garantido um bom atendimento. Então tá.

Pois bem, amigos, a melhor filosofia para ir às compras é lançar mão do melhor coadjuvante: a roupa e a empáfia! Mesmo que você tenha tudo de bom e for uma pessoa agradavelmente simples, sem frescuras - o que é elogiável -, nestas santas horas não funciona, é preciso representar: é preciso estampar (na testa) que você tem esta porcaria de dinheiro para comprar o que procura; é preciso mostrar para o seu médico que você tem dinheiro para bancar uma cirurgia ou um tratamento caro; é preciso mostrar para o gerente do banco que você vai ser bom investidor; é preciso mostrar que você tem! Mesmo que não tenha. O tratamento que dispensarão a você será coisa pra cachorro grande. É assim que funcionam as coisas neste terceiro mundo dos confins. Infelizmente.

Nos países de primeiro mundo não sei como funciona; mas não deve ser muito diferente: a matéria-prima é a mesma...
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