segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um enconto ideal.


O lugar não era nenhum clube mas tinha na placa Club House, rua Oratório, Santo André.À minha esquerda o Leandro, à minha direita o Ticão (Anderson), poucos sabiam seu nome, se soubessem diriam:"É um apelido",era um rapaz com uma profunda cicatriz familiar, vivia com seus tios, seus pais já haviam falecido, era falador, gesticulador, não tinha emprego, profissão, sonho ou ideal, usava sempre o mesmo boné, não sei se o lavava, existia apenas uma pessoa que dava atenção aos seus devaneios conceituais, que vinham de uma experiência adquirida pela intensa convivência nas ruas,eu,tinha uma dificuldade aguda de ouvir conselhos,seu maior medo era ser contrariado,sempre se constrangia com críticas pessoais quando essas atingiam o seu estilo parasita de ser.

Já o Leandro era meigo,contextualizado,alegre,humorado, carente,contente,generoso,gastava seu dinheiro sem afetação,sempre em prontidão à emprestar,tinha uma disposição densa quando o assunto era amizade.

No meio dos dois a Vera,também perdera seu pai e vivia com sua mãe Sônia,uma mulher amarga que deixara muitos traços em sua filha, uma menina simpática,tinha um sorriso lindo,sempre quando sorria notava-se duas covinhas em suas bochechas rosadas,que segundo minha mãe eram os buraquinhos da beleza,uma beleza que me encantava em suas tranças e em seus traços,um comportamento que andava na contra mão da futilidade,não havia semelhança com as outras e nunca era vista em grupos,posicionava-se com uma atitude sóbria de não ser nenhuma "Maria vai com as outras" ou gasolina.

Naquela noite seus olhos vagueavam ora no Leandro ora no Anderson,nunca paravam nos meus,era como um sinal,palavras ditas sem pronúncias,como se estivesse berrando "estou brava mais te quero", entendi perfeitamente,isso causou um tremor na barriga, meu coração pulsava mais rápido,me sentia feliz pois aquela menina de postura forte,de postura pessoal marcante,dissimulava querendo atingir a mim e sobretudo usava minha camiseta branca que cobriam os joelhos,quase que uma freira grafiteira,linda.

Nunca dera um indício tão evidente como esse ,minha auto-estima frígida degelava sob o calor daquela noite,as batidas eram comum aos ouvidos,as luzes as pessoas,as roupas,a hora,mas o momento não ,desgarrou-se da história,pois descendo a rua Oratório,ela punha seu braços entrelaçados aos meus como noivos em marcha nupcial,senti pela primeira vez sua pele, seu cheiro, sua juventude cheia de energia,seu corpo junto ao meu,sua voz,sua personalidade mais amplamente absorvida pela minha admiração.Em momentos como esse, jovens quiméricos tornam-se céticos por vislumbrar deslumbrado expectativas tão viscerais,sendo realizadas em situação tão impensadas,não acreditei.

Na estação de trem, em Santo André,foi um desses momentos que emprestam razão aos romances,as novelas,aos filmes,ela encostada em uma coluna,eu com as mãos em sua cintura,seus olhos brilhantes,alegres,me atraíam ao passo que seus lábios me traíam,fugiam dos meus,uma brincadeira de gato a caça da gata,aumentava os desejos e a adrenalina do momento,rostos ruborizados,o sangue circulava quente,no momento que nossos lábios se tocaram,houve um não selinho,mas um selo de significação e afeição permanente que perdura por dez anos,tanto naquele instante da história, como nessa fatia de tempo, o hoje, a menina não só cresceu mas se idealizou como esposa e mulher e por significar o que significa essa mulher ao narrador, imortalizo aqui seu encontro ideal.

João Neto Felix

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